{ Sobre almas Distantes }

Sou uma criatura de vestes antiquadas, que anda devagar até um lugar onde eu possa me esconder. Sou um pequeno ser de olhar cansado que insiste em querer ver nas entranhas da terra outras formas de vida. Sou um pequeno ser que encontra-se perdido pois o mundo não consegue entender o porquê deu sempre desaparecer. Sou a criatura que ao levantar nas manhãs chuvosas, tentar capturar os trovões em frascos de vidro afim de torna-los amigos, pois eles me poem medo. Sou assim, bem pequena. Não sou tão notada e sou silenciosa. Costumo doar palavras sem medo, aquelas palavras despejadas de afeto. Mas somente isso. As falas calmas que saem de mim são grandes e as falas firmes não existem. Estou caminhando lentamente para ver o lago distante que aguarda a visita de seres distantes. Talvez seja um problema grande não conseguir permanecer junto das pessoas por muito tempo. Para os estudiosos de comportamento, deveras é um problema. Já eu não o considero, é apenas o silêncio. A calmaria de uma criatura que não vive nas entre aspas humanas.

Na biblioteca mais cobiçada da cidade, alguns entram e saem apenas para algo de rotina, ou nada por assim dizer. Não sentam apenas para observar as expressões humanas, e isto é um feito brilhante. Alguns apenas entram para comprar livros, justo... muito justo. Pegam alguns e saem. Batem a notinha na portaria e voltam para casa. As manias e tiques das almas distantes muito me agradam, elas estão tão próximas do que sou que quase não as noto, pois não as encontro com facilidade. As raras exceções, aquelas criaturas que se nota uma certa estranheza, para mim é motivo de celebração intrínseca ao tempo que posso escrever variadas histórias na minha mente sobre pessoas desconhecidas. 

Do lado de fora da biblioteca há uma avenida extensa onde carros passam todo o tempo e há uma grande mancha no meu silêncio pertinente. Ao transitar pelas ruas, qualquer buzina ou barulho alto de alguma coisa qualquer causa-me efeitos esquisitos. Sempre olho para todos os lados e minhas mãos soam. Efeito urbano causa-me um desconforto exagerado. Volto rapidamente para onde estive, do segundo andar da biblioteca cujas paredes não há, todos são vistos do lado de dentro e todos são vistos do lado de fora. Eu vejo aqueles que estão com olhos fitados nos livros e parecem não estar. São cativantes. Vejo aqueles que transitam entre as estantes de livros empilhados, estes são os caminhantes. São interessantes. E há aqueles que sentam no ultimo cantinho do ambiente, longe da vista de todos e não parecem ler e também não parecem escrever. Aquelas que pegam sempre mais de um livro e empilham fazendo a si próprio uma estante. Aquelas que ao passar alguém por perto desvia a atenção por segundos só para observar expressões. Que quando leem algo novo, leem novamente e depois leem em si e nos outros. Aquelas que entraram sobre efeito de silêncio e saíram em silêncio. Estas raras pessoas distantes. Elas possuem um mistério que cerca qualquer expressão das quais façam. São fascinantes. 

As pessoas poderiam interpretar tais seres como eu os vejo, mas não é assim que ocorre. Eu os noto em qualquer ambiente que eles possam estar, pois vibram na mesma onda que me encontro ao por elas passar. Mas as almas distantes são assim, por assim dizer... Distantes. O meu sorriso é leve e minhas expressões de sentimento são fracas, achegar-me diretamente nessas almas poderia ser um drama. Porém quando ocorre o momento é assombroso. Os olhares são compenetrados e os movimentos misticos de bocas, membros e mãos são os mais parecidos. Quando algum diálogo acontece, pode-se ter a certeza que é um marco estridente na alma. Então sorrisos leves são altos. Olhares mansos são bravos. E após tal encontro de especies extintas, os lagos distantes estão esperando por estas. Então elas se vão e deixam um marco de inspiração em nós. E assim, suavemente, minha alma distante conhece e reconhece estas pessoas, dessa forma tão estranha logo me ponho onde estive e por lá ficarei, mas minhas memórias das quais guardo sobre aquilo que me cativou, são eternas.

4 comments:

  1. Anonymous4/04/2014

    Sabe, eu me identifiquei muito com esse texto. Você é uma pessoa intrigante e misteriosa, adoraria saber aonde é essa biblioteca para pode observar dessa forma também. Considero-me uma alma distante também, não sou muito de estar entre as multidões e é de costume que observe tudo ao redor.

    Abraços, Luna

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    1. Olá Luna, sobre a biblioteca, é uma alusão da qual geralmente visito. Observar o que estar ao redor é importante.
      Abraços.

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  2. Anite, voce tem uma personalidade muito interessante. Adorei o que voce escreveu e como escreveu. Acho que eu também sou assim. Prefiro estar sozinha, pensar nas coisas e observar.
    Beijos da Hungria <3

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    1. Ficar sozinha tem seus prazeres. Suas aspirações e as inspirações correm mais rapidamente através do silêncio. <3

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