Memórias insólitas



Havia uma garota, cujo nome não me recordo, tinha uma imensa vontade de ter os cabelos brancos como a neve e os olhos violetas translúcidos. Lembro-me de tê-la em um sonho profundo, alguém com aparência distante das pessoas comuns da face da terra. Certa vez alunando, notei um surto de pensamento. Veio-me uma vaga lembrança de uma garota com vestes longos que se arrastavam pelo chão. Um vestido um pouco sujo, antigo. Com flores verdes bordadas nas pontas. Ela caminhava na ponta dos pés e olhava sempre em direção ao céu. Uma criatura, diferente coberta de silêncio. Nunca ouvi ela falar uma palavra, e era quase impossível ouvir sua respiração, se mantinha sempre longe com seu olhar taciturno. Notei que ela me aparecia em noites de Lua Nova. Não lembro de temer tal aparição, porém não me recordo de ter alguma animação com relação a mesma. Ela passeava pelo jardim e cheirava as roseiras. Passava a mão suavemente pelas folhas das árvores e de repente parava, ficava abaixo de alguma árvore, estática e se colocara a observar o céu, sempre no entardecer. Depois, desaparecia. Lembro-me de uma garota que não falava, era silenciosa na fala e conversadora no olhar. Não me olhava nos olhos, porém quando ocorria era sempre um choque para mim, não poderia imaginar nem sequer tinha coragem para achegar-me mais perto, não por temer, mas porque era bonito apenas observar distante e ver a sutileza que ela contemplava a vivacidade do lugar. Estremecia-me as pernas. A ansiedade tomava conta do ambiente por causa de sua presença. Havia cheiro de flores no ambiente e os ventos pareciam sempre como o soprar dos pulmões em sono profundo. Ela era uma memória de um sonho antigo em que ao olhar para o espelho, notava a aparência distorcida. Cabelos brancos como a Neve. Pele pálida e Fria. Olhos penetrantes. Criatura incomum. E por alguma razão eu estava feliz por vê-la em mim mesmo.



2 comments:

  1. A raposa3/24/2014

    Muito bom o jeito que escreves. Parece um passeio pelas emoções.

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